

INICIATIVAS DE APOIO E ACOLHIMENTO LUTAM PELOS DIREITOS E PELA CIDADANIA DA POPULAÇÃO LGBT+
"Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”. Assim começa o Artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Igualdade e a não discriminação são princípios fundamentais que deveriam valer em todo o mundo. E embora pareçam conceitos simples, de fácil compreensão e aplicação prática, não o são.
O preconceito está presente no cotidiano de bilhões de pessoas, pelas mais diversas condições. Raça, cor, sexo, classe social, idade – onde há diferença, há o pretexto para a discriminação. Esta reportagem aborda uma dessas questões: a discriminação em razão da orientação-afetivo sexual e da identidade de gênero.
A população LGBT+ é composta por lésbicas, gays, bissexuais, travestis, pessoas trans e pessoas com outras formas de identidade de gênero e sexualidade, como as intersexuais e as assexuais. Essas pessoas costumam ser retratadas com estereótipos caricatos, os quais apagam a história e a vivência de um grupo que luta diariamente pelo direito de existir. Não se trata de personagens, estamos falando de pessoas.
Em 2017, 73 países ainda criminalizam as relações entre pessoas do mesmo sexo no Oriente Médio e na África, sendo que 13 deles preveem a pena de morte como punição. No Brasil, a cada 25 horas, uma pessoa LGBT+ é assassinada. Aqui, a população em geral vive em média mais de 75 anos, enquanto as pessoas trans não passam dos 35.
Por isso que a aceitação é uma questão essencial para o ser humano, mas é especial para as pessoas LGBT+. Além de passar por um processo pessoal de autoafirmação, a luta contra o preconceito e a violência é constante e muitas vezes começa ainda dentro de casa.
Segundo uma pesquisa do Instituto Data Popular, realizada em 2013, 37% dos brasileiros não aceitariam um filho homossexual. Essa rejeição muitas vezes é manifestada por várias formas de violência, entre elas a expulsão de casa e a privação do convívio familiar.
O apoio familiar é uma questão sensível para a população LGBT+ e a expulsão parte dessa lógica de preconceito e não-aceitação. “A família é onde estão as principais referências que uma pessoa tem de afeto”, explica Jaqueline Gomes de Jesus, 39, ativista e professora de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). “A expulsão pode afetar de forma muito grave o desenvolvimento da identidade do indivíduo, comprometendo não só sua relação com a família, mas também gerando um trauma que pode afetar outros vínculos sociais que essa pessoa possa desenvolver”.
A falta do apoio familiar pode consolidar a ideia de vergonha da própria identidade que muitas pessoas LGBT+ acabam desenvolvendo, vergonha e negação de ser quem são. Principalmente entre pessoas mais jovens, esse tipo de pensamento pode desencadear problemas como a depressão, a automutilação e o suicídio. Um estudo da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, mostrou que adolescentes homossexuais são cinco vezes mais propensos a tentar o suicídio do que os heterossexuais. Se pensarmos na juventude trans, essa tendência pode ser ainda maior.
Uma vez expulsos de casa, para onde as pessoas LGBT+ vão? Para esta reportagem, foi realizada uma enquete on-line que buscou responder essa questão, já que ainda não existem dados oficiais sobre o tema. A enquete foi respondida por 250 pessoas e revelou que, caso fossem expulsos de casa por conta de discriminação, 58,8% delas procurariam acolhimento com amigos; 16,4% procurariam outros familiares; 14,4% não saberiam para onde ir; 6,8% ficariam com os relacionamentos estáveis; 0,4% buscariam uma igreja; 0,4% optariam por uma instituição pública; e 2,8% não souberam responder.
Motivadas pela preocupação com todos esses desdobramentos da rejeição e da discriminação, iniciativas governamentais e da sociedade civil distribuídas pela cidade de São Paulo travam uma batalha diária a favor dos direitos e da cidadania dessa parcela da população que se encontra, muitas vezes, em situação de completa vulnerabilidade social.
Muita gente não conhece o trabalho transformador que essas iniciativas operam nas mais diversas instâncias, da prestação de serviços socioassistenciais, psicológicos e jurídicos, como a realizada pelos Centros de Cidadania LGBT, à oferta de moradia e espaço de integração, como ocorre no projeto Florescer e a Casa 1. Há ainda propostas que abraçam a diversidade, como o Galpão Cultural Humbalada, e mesmo aquelas que promovem a inclusão radical por meio da fé, como a Igreja da Comunidade Metropolitana, ou discutem as diferenças com a troca de experiências, como ocorre no Consulado de Famílias. Em todas essas propostas, o que se oferece é abrigo, proteção, amparo, refúgio, atenção, aceitação. São lugares, portanto, de ampla e profunda acolhida.
Cada uma a sua maneira, elas compartilham objetivos comuns: a propagação do respeito pela diversidade e o progresso e a segurança dos direitos civis da população LGBT+.